Poucas mudanças <br> em Bissau e Argel
Na Guiné-Bissau, o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e de Cabo Verde) está já a preparar o novo governo, depois da vitória nas eleições legislativas de 13 de Abril.
O seu líder, Domingos Simões Pereira, que será o próximo primeiro-ministro, adoptou, apesar da maioria absoluta conquistada, um discurso apaziguador em relação às forças da oposição.
O PAIGC elegeu 57 dos 102 deputados à Assembleia Nacional Popular, o PRS (Partido da Renovação Social) 41, o PCD (Partido da Convergência Democrática) dois, o PND (Partido da Nova Democracia) um e a UM (União para a Mudança) outro.
Nas eleições presidenciais, que decorreram em simultâneo, José Mário Vaz, candidato do PAIGC, obteve 41% dos votos, seguido de Nuno Nabiam, apoiado por personalidades do PRS e pelas chefias militares, com 25%. Em terceiro lugar, com 10%, ficou Paulo Gomes, funcionário do Banco Mundial, e em quarto, com 7%, Abel Incada, líder do PRS. Os dois primeiros disputarão a segunda volta, a 18 de Maio, sendo previsível uma vitória do candidato do partido que dirigiu a luta pela independência.
As eleições tiveram uma alta taxa de participação, da ordem dos 80%, e foram validadas por centenas de observadores internacionais, que as proclamaram «pacíficas, livres, justas e transparentes». A elevada afluência às urnas e os resultados eleitorais mostram a opção povo guineense pela paz e democracia.
A «comunidade internacional» – Nações Unidas, União Africana, União Europeia, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) e Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) –, que financiou e organizou as eleições, tem esperanças de que, no final do processo, estejam reunidas as condições para a «normalização» da Guiné-Bissau, que desde o golpe de Abril de 2012 vive sob ditadura militar. O «homem-forte» é o general António Indjai, acusado por vários sectores, incluindo as autoridades estado-unidenses, de ligações aos tráficos de drogas e armas das rotas Oeste-africanas.
Legitimados nas urnas, os novos governantes do PAIGC procuram construir consensos alargados com a oposição, no sentido de fortalecer a unidade nacional. Isto porque, a par dos graves problemas económicos do país, Domingos Pereira e os seus camaradas terão que resolver rapidamente a situação dos generais golpistas, ainda à frente das forças armadas e, com aliados civis, detentores de grande poder.
Há pressões internacionais, canalizadas sobretudo através do representante do secretário-geral da ONU em Bissau, José Ramos Horta, no sentido de se formar um governo «inclusivo», com a participação de todas as forças políticas, incluindo o PRS.
Triunfo de Bouteflika
As eleições presidenciais na Argélia também não trouxeram surpresas.
No cargo desde 1999, Abdelaziz Bouteflika, candidato da Frente de Libertação Nacional (FLN), foi reeleito na primeira volta, com 81,5% dos sufrágios, para um quarto mandato. O principal adversário, Ali Benflis, seu antigo primeiro-ministro, com posições neoliberais, conseguiu 12% dos votos.
As eleições de 17 de Abril ficaram marcadas pela baixa taxa de participação (52%) e pelas acusações, dos opositores do presidente reeleito, de fraude generalizada. A abstenção registou-se principalmente na região da Cabília (25%) e na capital (37%).
O triunfo do velho «moudjahid» – combateu pela independência e, depois, foi ministro dos presidentes Ben Bella e Houari Boumediene – não desfez as incertezas quanto ao futuro deste país norte-africano, onde metade da população é constituída por jovens.
Vivendo das rendas da exportação do petróleo e gás, a burguesia nacional voltou a apostar na FLN e nos militares, no poder desde 1962, exigindo-lhes paz e estabilidade numa Argélia marcada pelo sangrento conflito dos anos 90 entre o exército e islamitas radicais. Bouteflika tem a seu crédito ter posto termo à guerra civil e «pacificado» a sociedade argelina.
Hoje, no início do quarto mandato, o presidente reeleito, de 77 anos, com a saúde fragilizada, enfrenta desafios complexos.
Tendo conseguido manter a Argélia à margem das «primaveras árabes» que atingiram a Tunísia e o Egipto e do caos da Líbia, cabe-lhe agora escolher um bom governo, combater a corrupção, diversificar a economia assente na «monocultura» dos hidrocarbonetos, dar resposta às aspirações populares e esmagar o «terrorismo islâmico» que continua a flagelar o país, quer nas extensas fronteiras com o Mali, o Níger e a Líbia, quer nas montanhas da Cabília, onde ainda há dias a Al-Qaeda do Magrebe Islâmico (Aqmi) emboscou uma coluna militar e matou 11 soldados.